CICLOS CÓSMICOS DA HUMANIDADE
MANRIQUE MIGUEL MOM (†)
(Fragmento)
Gnose
      "Esta palavra significa o conhecimento que, ao revelar ao homem o porquê da irredutibilidade do mal, é uma noção salvadora. O gnóstico é um estrangeiro que rechaça as evidências recebidas deste mundo. A gnose é um saber cuja própria modalidade constitui não uma contramarcha do pensamento discursivo, mas uma revelação narrativa das coisas ocultas, uma luz salvadora que aporta por si mesma a vida e a alegria, uma graça divina que atua e assegura a salvação. Saber ou conhecer o que se é, quem se é, compreender um universo superior do qual se vem, onde estão nossas origens, é estar de antemão salvo, e isso é a gnose

      Ela não é jamais um conhecimento teórico, mas um saber operativo, ou seja, condutor e realizador da metamorfose e do renascimento de um ser." 

Henry Corbin
       Extraído de El elemento dramático de las cosmogonías gnósticas. Cuadernos de la Universidade de San Juan de Jerusalén Nº 5.
PRÓLOGO
O trabalho de recompilação e investigação que apresentamos sob o título de "Ciclos Cósmicos da Humanidade", sem prejuízo para as evidências diretas da presença do tempo cíclico desde a criação do Universo – incluído, por certo, nosso Sistema Solar – atribui também qualidade cíclica às sucessivas civilizações que habitaram e às que hoje habitam a Terra. 

Nosso objetivo é limitado, pois somente abrange quatro grandes civilizações: o Hinduísmo, o Judaísmo, o Cristianismo, no Islamismo, civilizações cujas respectivas doutrinas incorporam, com maior ou menor amplitude, indícios firmes ou relativamente velados – sob formas diversas – da qualidade cíclico-cósmica do nosso mundo e de nosso tempo, assim como algumas breves referências sobre o esoterismo próprio de algumas delas. 

Um aspecto que consideramos indispensável destacar desde já, está configurado pela notável correspondência que se observa entre a origem e o término da glaciação quaternária denominada genericamente Würm, cuja extensão engloba um período de cerca de 65.000 anos, entre 75.000 a.C. e 10.000 a.C., quando começou a regressão da glaciação. Esta glaciação cobriu de um modo amplo o Hemisfério Norte, estimando-se que para o próximo ano 2.000 poderia praticamente finalizar o retrocesso dos gelos, salvo nas calotas polares e suas proximidades imediatas e não considerando uma hipotética intervenção de alguns fatores astronômicos que analisaremos mais adiante. 

No caso especial da glaciação Würm (75.000 a.C. a 10.000 a.C.) e do ciclo cósmico da humanidade cujas últimas manifestações observamos atualmente, sabemos que seu final poderia produzir-se aproximadamente para o ano 2.000 próximo, acumulando mais ou menos uma duração de 64.800 anos (62.800 a.C. + 2.000 d.C. = 64.800 anos). Por certo, os números consignados são exclusivamente estimativos, mas reúnem, não obstante, adequada credibilidade e podem ser considerados, pelo menos, possíveis. 

Nosso atual ciclo cósmico – o Manvántara, na terminologia hindu – começou no ano 62.800 a.C. e finalizará provavelmente no ano 2.000 d.C.. Seus ciclos internos se articulam e escalonam na seguinte forma:
 

   Ciclo
Duração
Periodo
Krita-Yuga (Idade de Ouro) 25.920 anos   62.800/36.880 a.C.
Tretâ-Yuga (Idade de Prata)
19.440 anos 
 36.880/17.440 a.C.
Dwâpara-Yuga (Idade de Bronze)
12.960 anos 
 17.440/  4.480 a.C.
Kali-Yuga (Idade de Ferro)
  6.480 anos 
   4.480/  2.000 d.C.
 Duração do Manvántara
64.800 anos
Cronologia do "Kali-Yuga " ou "Idade de Ferro" actual
Idades: 
Sandyhâ (crepúsculos)
Idade de Oro
4.480 / 1.888 a.C.
4.480 a.C. / 4.156 a.C.
Idade de Plata
1.888 /     56 d.C.
 . . . . . . . . . .
Idade de Bronce
    56 / 1.352 d.C.
. . . . . . . . . .
Idade de Hierro
 1.352 / 2.000 d.C.
1.676 d.C. / 2.000 d.C.
Do exposto acima é possível deduzir sem esforço que no caso da glaciação quaternária Würm (75.000 a.C./10.000 a.C.) existe uma notória coincidência com nosso ciclo cósmico atual, que abarca desde o ano 62.000 a.C. até o ano 2.000 d.C. incluída uma razoável regressão das geleiras würmienses para as partes finais da glaciação. 

A carência de informação fidedigna referente a eventuais assentamentos humanos de alguma importância, nos impede de analisar a glaciação quaternária Riss (200.000 a 120.000 a.C.) na qualidade de ciclo cósmico humano presumivelmente desenvolvido em um lapso de tempo aproximadamente coincidente com a aludida glaciação. A geologia – por seu lado – nos assinala que todos os períodos glaciais produzidos no passado se caracterizaram por provocar extensas inundações de terras, devidas ao aporte de águas que produzem os grandes rios que têm suas fontes nas geleiras. Os livros sagrados hindus, ao mencionarem o vocábulo prâleya o fazem derivar de pralaya (dilúvio–destruição), sendo que o primeiro significa neve, orvalho, ou gelo, o que indica que a relação entre gelos e dilúvios não era desconhecida pelos hindus de outrora. Simultaneamente, a água evaporada dos mares, rios, e grandes lagos, além de alimentar as geleiras, ao precipitar-se em forma de neve provocava uma redução generalizada dos níveis oceânicos, deixando a descoberto consideráveis extensões das plataformas continentais em todo o planeta, superfícies nas quais, nas zonas tornadas climaticamente adequadas, se registrou a invasão, primeiro pela vegetação, depois pelos animais, e mais tarde pelos homens, em busca de sustento e de lugares de assentamento e posterior expansão. 

George Gamow é o geofísico russo–americano que – com seu comprovado conhecimento – nos explicou em vida as causas das invasões glaciais que periodicamente se produzem sobre a superfície da Terra. Em primeiro lugar – sustentava – essa periodicidade é dupla, pois os congelamentos extensos só têm lugar durante os períodos da história terrestre que se seguem às grandes revoluções orogênicas, quando se eleva a superfície dos continentes, cobrindo-se eles de altas montanhas. Esta periodicidade indica, simplesmente, que a existência de tais características de relevo é um requisito prévio para a formação de grossas capas de gelo, as quais – crescendo mais e mais – descem das montanhas e invadem áreas extensas das planícies ao redor, ou também se desmoronam em alguns casos sobre os mares ou oceanos que circundam as montanhas – ou estão próximos a elas – cobrindo-os paulatinamente, em extensões variáveis, com grossas capas de gelo flutuantes. 

Porém, dentro de cada era glacial correspondente a uma dada revolução orogênica há variações periódicas de duração consideravelmente menor. Enquanto as montanhas ainda subsistem, o gelo avança e se retira através das planícies, ou se funde no oceano, de formas muitas vezes sucessivas. Esta segunda periodicidade é, sem dúvida alguma, independente das variações nas características estruturais da superfície da Terra, e deve-se atribuí-la a mudanças autênticas da temperatura. 

Como o balanço de calor da superfície terrestre está inteiramente regulado pela quantidade de radiação que chega a ela, devemos buscar os fatores que possam influir sobre a radiação solar incidente. Podem ser fatores deste gênero: 

1) as variações de transparência da atmosfera terrestre; 

2) as mudanças periódicas da atividade solar; 

3) as mudanças na rotação da Terra ao redor do Sol, e as anomalias concorrentes de ordem astronômica e cósmica.

A explicação estritamente atmosférica da variabilidade do clima, repousa sobre a hipótese de que, qualquer que seja o motivo, a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que contém nossa atmosfera está sujeita a flutuações periódicas. Como este componente da atmosfera é, em alto grau, responsável da absorção de calor solar, uma diminuição relativamente pequena do dióxido de carbono contido na atmosfera poderia ser a causa de uma queda considerável da temperatura da superfície, resultando dela a formação excessiva de gelo que caracteriza os períodos glaciais. Deve-se – não obstante – ter em conta que ainda que essa explicação seja, em si mesma, perfeitamente possível, a razão destas supostas flutuações periódicas na composição da atmosfera não está clara. Além disso, não há maneira de se comprovar se as extensas invasões glaciais do passado estiveram ligadas, efetivamente, a variações no conteúdo atmosférico de dióxido de carbono. 

A hipótese que procura explicar as temporadas de frio com a variabilidade solar, sofre do mesmo gênero de imprecisões. Para assegurar-nos, observemos as alterações periódicas da radiação solar, que são devidas à variação do número de manchas solares, que alcançam seu máximo a cada dez ou doze anos. Também é certo que durante os anos nos quais o número de manchas solares é máximo, a temperatura média terrestre diminui uns 0,55º a 1º centígrados, porque decresce a quantidade de radiação recebida. Porém não existem indícios – nem experimentais, nem teóricos – de que as variações na atividade solar persistam por milhares de anos. Assim como a hipótese do dióxido de carbono, também neste caso parece impossível cotejar as coincidências ou não coincidências das idades glaciais passadas com os mínimos de atividade solar. 

A última das três hipóteses (das mudanças na rotação da Terra ao redor do Sol) não parece estar sujeita a estas limitações; segundo veremos, não só nos põe em condições de compreender as causas das glaciações periódicas, mas, além disso, é possível relacionar muito bem seus dados com as provas geológicas. 

As mudanças de estação na superfície da Terra se devem ao fato de que seu eixo de rotação está inclinado em relação ao plano da órbita de maneira que, durante seis meses, o hemisfério Norte (e, os demais seis meses, o hemisfério Sul) está voltado para o Sol. Assim, devido à maior duração do dia e a incidência mais vertical dos raios solares, o hemisfério voltado ao Sol recebe consideravelmente mais calor e está na estação quente (primavera–verão), enquanto o hemisfério oposto atravessa a estação fria (outono–inverno). 

Não obstante, deve-se recordar que a órbita da Terra não é exatamente um círculo, mas sim uma elipse, na qual a Terra está mais próxima ao Sol em alguns trechos de sua trajetória que em outros. Na atualidade, a Terra passa pelo periélio (o ponto mais próximo do Sol) em fins de dezembro (hemisfério Sul), e chega a sua distância máxima do Sol (afélio) em fins do mês de junho (hemisfério Sul). 

Por conseguinte, os invernos devem ser algo mais suaves no hemisfério Norte que no Sul. Pelas observações astronômicas sabemos que a distância do Sol em dezembro no hemisfério Norte é, aproximadamente, 3% menor que em junho, razão pela qual a diferença entre a quantidade de calor recebido por um ou outro hemisfério teria que ser de 6%, já que a intensidade da radiação diminui na razão inversa do quadrado da distância. Segundo uma fórmula que relaciona a quantidade de radiação recebida e a temperatura da superfície, pode-se – por exemplo – deduzir que nos anos 1941-1942 a temperatura média dos verões do Hemisfério Norte era 3,85ºC a 4,95ºC mais baixa, e a temperatura média dos invernos do mesmo Hemisfério era – por sua vez – 3,85ºC a 4,95ºC mais alta que os valores correspondentes em ambos os casos no Hemisfério Sul. 

Poder-se-ia crer que estas diferenças entre os dois hemisférios não podem contribuir para a explicação dos períodos glaciais, posto que os invernos mais frios se compensarão com os verões mais quentes, e vice-versa. Entretanto, isto não é correto, porque o efeito relativo das variações de temperatura sobre a formação de gelo é completamente diferente para verões e invernos. De fato, se a temperatura já se acha abaixo do ponto de congelamento da água (o que é comum no inverno em vários lugares), uma posterior diminuição não influirá na quantidade de neve caída, pois toda a umidade presente no ar, de qualquer modo, se precipitará. Por outra lado, o aumento de radiação nos verões acelerará consideravelmente a fusão e a retirada dos gelo formado durante os meses invernais. Devemos, pois, chegar à conclusão de que os verões mais frios favorecem a formação de capas de gelo em medida muito maior que os invernos frios, e que, por conseguinte, as condições para a extensão das geleiras se dão – na atualidade – no Hemisfério Norte. 

Porém podemos perguntar-nos, dizia George Gamow, "por que, então, se as condições climáticas o favorecem, não temos nos tempos atuais uma época glacial na Europa e na América do Norte?" A resposta a esta pergunta se apóia no valor absoluto da diferença de temperaturas: parece que o esfriamento de 3º,85C a 4º,95C está justamente abaixo da quantidade de frio necessária para o crescimento das capas de gelo. Segundo já vimos, as geleiras do hemisfério norte estão atualmente se retraindo, e não avançando. Porém, o equilíbrio entre a quantidade de neve caída durante os invernos e a quantidade de gelo que se funde nos verões é muito delicado, e uma queda da temperatura no verão que fosse somente duas ou três vezes maior do que é, poderia inverter por completo a situação. 

Afora os fatores geológicos e atmosféricos que influem sobre o processo de iniciação, desenvolvimento, e término das glaciações, existem numerosos outros – de origem e natureza especificamente cósmicos e de características cíclicas – que concorrem, isolada ou conjuntamente, para condicionar seu rigor ou sua suavidade. Tais episódios cósmicos concorrentes são:
 

 I) 
Ângulo de inclinação do eixo da Terra, relativo ao plano da órbita. Esta inclinação se encontra submetida a variações com períodos de 40.000 anos, ou seja, em um ciclo completo de precessão dos equinócios (aproximadamente 25.920 anos) o eixo varia sua inclinação entre o máximo e o mínimo de 1,5432 vezes. Para as maiores inclinações, aumentam as diferenças de temperaturas entre os dois hemisférios terrestres e ocorrem verões mais quentes e invernos mais frios.
Ao contrário, a perpendicularidade do eixo da Terra conduz à uniformidade de climas, e as diferenças das estações desapareceriam por completo se o eixo da Terra fosse perpendicular ao plano da órbita.
 II) 
Lentidão no giro da órbita da Terra ao redor do Sol, com periódicos aumentos e diminuições de sua excentricidade, que variam entre 60.000 a 120.000 anos. Este giro se superpõe ao da precessão do eixo da Terra.
III)
Mudanças periódicas na excentricidade da órbita terrestre. Durante as épocas de órbita muito alongada, a Terra está especialmente distanciada do Sol quando passa pelo ponto mais distante de sua trajetória ao redor do astro, e a quantidade de calor que recebem ambos hemisférios é excepcionalmente baixa. 

A título de exemplo, e segundo cálculos exatos, a excentricidade da órbita terrestre faz 180.000 anos, ou seja, em plena glaciação alpina RISS (SAALE, na Europa do Norte; ILLINOIS, na América do Norte; PRIMEIRA GLACIAÇÃO HIMALAYA, na Ásia), era duas vezes e meia maior que na atualidade.
 

IV)
Mesmo que as mudanças de temperatura resultantes de uma causa qualquer dentre as enumeradas não tenham sido muito importantes, devemos recordar que se em certa época da história da Terra houvessem atuado todas as causas em um mesmo sentido, o efeito combinado teria sido bastante grande. Conseqüentemente, na época em que o alongamento da órbita era especialmente grande, o ângulo de inclinação do eixo era particularmente pequeno, e o verão do Hemisfério Norte ocorria quando a Terra passava pelo ponto mais longínquo de sua alongada órbita, a quantidade de calor que recebia este hemisfério tem de ter sido excepcionalmente baixa. 

Ao contrário, uma órbita pouco excêntrica, e a inclinação oposta do eixo de rotação terrestre, devem ter causado em tal hemisfério condições climáticas consideravelmente mais suaves.
 

Quantos "mundos", quantos "Dias de Brahma" ou "recriações" tiveram lugar antes de nossa criação? Quantas "Noites de Brahma" ou "retornos ao princípio" sucederam a cada uma das "criações"? Quem poderia sabê-lo? 

Não existe medida nem conhecimento dos "Dias de Brahma" anteriores. Somente sabemos que nosso Kalpa do "Javali Branco" está composto por catorze ciclos menores chamados "Manvántaras", e que o atual – nosso Manvántara – teria começado há uns 64.800 anos, e que – entre outras possíveis – englobaria a zona hoje chamada "Arco Norte-ocidental" da Ásia, que cobre a região delimitada pelas penínsulas de Tajmir e de Gyda – Montes Urais – Cáucaso – Montes do Ponto, e as partes do "Arco Norte-oriental" asiático que abrangem as regiões delimitadas pelo Hindukush e pelo Sul dos Himalaias. 

Parece que a origem das migrações dos povos védicos e avésticos poderia muito provavelmente localizar-se nas costas do vasto estuário do río Ob (Península de Gyda, ao Leste, e de Jamal, ao Oeste), na altura do paralelo de 70º Norte, e entre os meridianos de 65º e 85º Leste de Greenwich, delimitado ao Oeste pelos Montes Urais – Mar Cáspio, e ao Leste pelo atual Turquistão e os Montes Tien-Shan. 

Até pouco mais de um século muitos eruditos não podiam compreender como uma zona agradável para se habitar podia estar situada quase no limite do gelo, próxima ao Pólo Norte. Porém, os progressos da geologia conseguiram oportunamente demonstrar que no período interglacial Riss-Würm (120.000 a 75.000 a.C.) e em seus equivalentes na Ásia, Europa Setentrional, e na América do Norte, o clima circumpolar era suave e temperado, e, portanto, não era desfavorável para a vida autóctone, habituada ao clima global resultante na região. 

Já pensou o leitor que, desde o fim da glaciação "Würm" até nossos dias transcorreram uns 12.000 anos, dando espaço a umas 400 gerações humanas de 30 anos cada uma, e que no período interglacial pré "Riss-Würm" – que se prolongou por uns 45.000 anos – puderam-se radicar 1.500 gerações, também de 30 anos cada una? É possível negar a estas últimas a possibilidade de haverem alcançado paulatinamente um acentuado desenvolvimento espiritual e intelectual de acordo com o seu tempo? 

As comarcas asiáticas próximas ao Oceano Ártico a que nos referimos anteriormente – entre outras – se tornaram inabitáveis com a chegada das glaciações "Riss" e "Würm", e os mais tarde povoadores de partes do Norte asiático, obrigados a abandonar seus territórios de origem, emigraram para o Sul atravessando diferentes regiões da Ásia Central, para instalar-se na zona do Mar de Aral – nos vales dos rios Amudarja e Syr-Darja, territórios a partir dos quais, no amanhecer dos tempos históricos, os vemos emigrar novamente, os védicos para o Leste-Sudeste, e os avésticos em direção Sudoeste. 

Com o transcurso do tempo, os védicos, assim chamados por seus textos sagrados denominados "Vedas", integraram os povos hindus, tanto que o "Avesta" passou a ser o conjunto de livros sagrados dos povos avésticos, que se instalaram em parte dos territórios do que hoje constitui o Irã. 

Da superficial análise realizada podemos deduzir que – em termos gerais – os períodos interglaciais do Hemisfério Norte foram suficientes para possibilitar a implantação e desenvolvimento de populações autóctones, até a região delimitada pelos paralelos de 45º a 55º de latitude Norte, e – excepcionalmente – até o paralelo de 70º, se bem que em regiões razoavelmente altas. Nos próprios períodos glaciais, grupos humanos nativos poderiam ter-se instalado provavelmente até os 40º a 50º de latitude Norte, excetuando talvez, em parte, a época coberta pela glaciação "Riss". 

Portanto, tudo parecia sinalizar que naqueles períodos nos quais os fatores cósmicos concorrentes que enumeramos incidiam favoravelmente de forma quase conjunta, as condições para o desenvolvimento de etapas aptas para a evolução da vida podiam configurar um verdadeiro "ciclo humano", tal como ocorreu em no período interglacial "Riss-Würm". 

Está suficientemente comprovado que com certa periodicidade se produzem no espaço uma serie de fenômenos celestes que atuam sobre nosso planeta, e cuja qualidade cíclica e origem cósmica têm efeitos e conseqüências sobre a Terra e seus habitantes. Tal é o caso típico do fenômeno da "precessão dos equinócios" e do influxo dos "fenômenos ou fatores cósmicos concorrentes". 

Quando os povos hiperbóreos se viram obrigados a abandonar as zonas circumpolares arrasadas pela chegada do equivalente asiático à glaciação "Würm", emigraram para o sul, atravessaram diferentes regiões da Ásia Central, e se instalaram finalmente nos vales do Mar Cáspio, do Mar de Aral e de seus afluentes, os rios Amu-Darja e Syr-Darja, assim como também – mais tarde – na região do Indo ("Sind"), que deságua no Mar de Arábia, regiões das quais emigraram novamente: os ários védicos para o Sudeste, e os ários avésticos para o Sudoeste. 

Outros povos hiperbóreos, graças ao fato da glaciação não ter afetado grandemente as planícies da Sibéria Ocidental, nem tampouco a desembocadura do rio Lena até a margem ocidental da Estepe dos Kazakos, emigraram – entre outras direções – margeando o extremo Sul dos Montes Urais e, pelo Norte dos mares Cáspio e Negro, marcharam para o Ocidente. Simultaneamente – ou pouco mais tarde – o êxodo dos povos hiperbóreos de língua ária se estendeu por toda a área circundante do Mar Negro e, para além do âmbito do Egeu, para os Balcãs, Europa central e báltica, e Rússia Central. Naturalmente, o êxodo alcançou também os territórios do Oriente Próximo e a Ásia Menor. Alguns povos de língua ária irromperam na área mesopotâmica à partir da meseta iraniana: este foi o

caso dos mitânios, kasitas, e hurritas, enquanto os hititas e luvianos, também de língua ária, o fizeram do Noroeste, através dos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos. 

Os invasores eram portadores da cultura "Kurgan" (ou dos "Túmulos Funerários"), potente e duradoura cultura eurásica de raízes hiperbóreas que causou mudanças locais na pré-história da Europa e do Oriente Próximo. Através dos povos que irromperam de tal maneira, a maior parte da Europa e algumas amplas regiões do Oriente Próximo foram gradualmente indoeuropeizando-se ou arianizando-se, respectivamente. Parece uma hipótese aceitável a que sustenta que durante o quarto e o terceiro milênios, e princípios do segundo milênio antes de Cristo, os povos arianos conseguiram transformar os moldes culturais de uma grande parte do Oriente Próximo, Ásia Menor e Europa, e, provavelmente, converter certo número das populações locais em ário-falantes, ou ao menos em falantes do indo-europeu. 

No terceiro milênio antes de Cristo, uma das manifestações da expansão da cultura Kurgan – denominada Kurgam III – se orientou pelo Oeste do Mar Cáspio e pelo Leste do Mar Negro, em direção aos territórios situados imediatamente ao Norte e ao Sul, para reunir-se em uma ampla zona situada nos territórios que hoje constituem a Geórgia, a Armênia, o Azerbaijão e o Norte e Nordeste da Síria, uma de cujas saídas é dada pela direção geral dos dois grandes rios –Tigre e Eufrates – assim como pela orientação dos Montes Zagros. Dessa forma, os relevos, as planícies e os vales determinavam a expansão geral da nação: seus habitantes tentaram sair – pelo ocidente – além ou muito próximos às nascentes dos cursos superiores do Tigre e do Eufrates, para a Síria e o Mediterrâneo, e – pelo oriente – em direção à meseta iraniana. 

Até 2.500/2.300 a.C., uma parte menor da aludida expressão da cultura Kurgam III, integrada em sua grande maioria por povos de língua ária, se pôs em movimento em busca dos territórios que hoje constituem o Norte e o Oeste da Síria, Fenícia, e do Líbano, em uma espécie de manobra de exploração e reconhecimento ofensivo, em posse de informações sobre territórios vizinhos ao Mediterrâneo, povos e riquezas, e possibilidades de estabelecer relações comerciais e políticas. Simultaneamente, outra coluna menor se orientou para o Sudeste, ao longo do leito do Eufrates, em busca de um objetivo assaz restrito, que era o de tentar contatos pacíficos com os povos que ocupavam a mais tarde denominada "mesopotâmia". 

Outro grupo numeroso da cultura Kurgam III havia continuado sua penetração para o Ocidente pelo Norte do Mar Negro, para, logo após havê-lo superado, desprender um abundante ramo que irrompeu na Ásia Menor vinda do Oeste através do Bósforo e dos Dardanelos, dividindo-se logo em duas colunas, a do Norte (hititas) se orientou para o Levante, e a do Sul (luvianos), o fez em direção ao chamado fundo do Mediterrâneo, isto é, a costa marítima que se estende desde a Turquia, ao Norte, até o Egito, ao Sul.



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